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    Nesta quarta-feira (4), o governador Tarcísio de Freitas disse que não pretende exonerar Derrite. Afirmou, em vez disso, que o secretário “está fazendo um bom trabalho” Foto: Danilo Verpa/Folhapress

anais da ultraviolência

O rastro de sangue de Guilherme Derrite

O secretário de Segurança de São Paulo, que lida com uma crise após uma série de casos de brutalidade policial, já foi investigado por ao menos dezesseis homicídios

João Batista Jr., de São Paulo | 04 dez 2024_14h43
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No dia 3 de novembro, um policial militar matou a tiros, pelas costas, um homem que tentava furtar pacotes de sabão líquido no bairro Jardim Prudência, em São Paulo. No dia 6, uma criança de 4 anos e um adolescente de 17 morreram baleados durante uma troca de tiros envolvendo policiais no Morro São Bento, em Santos. No dia 20, um estudante de medicina foi morto com um tiro à queima roupa durante uma abordagem policial na Vila Mariana. No dia 2 de dezembro, um policial jogou um homem de uma ponte na Vila Clara.

Esses episódios de violência, revelados em um intervalo de poucos dias, resultaram em uma nova crise de segurança pública. Surpreendem pela brutalidade, mas não pela recorrência. Desde que assumiu a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, em janeiro de 2023, o ex-policial militar Guilherme Derrite deu sinais de que pretendia afrouxar os controles internos da PM. Já deu entrevista criticando colegas de farda que mataram menos de três pessoas em cinco anos de serviço. “É vergonhoso”, disse. Para ele, é pouco.

Antes de completar um mês no cargo, Derrite defendeu a ação de uma patrulha da Rota, a tropa de elite da PM, que disparou 28 vezes contra um Honda Fit, sob a justificativa de que seus três ocupantes iriam praticar um assalto na região central de São Paulo. Comprovou-se mais tarde, por meio de uma gravação em vídeo, que na operação um policial plantou uma arma ao lado de um cadáver para simular que houve confronto. No segundo mês à frente da Secretaria, Derrite cancelou a punição contra quinze agentes da Rota que tinham alto índice de letalidade. Em fevereiro deste ano, perdoou cerca de cinquenta PMs que estavam afastados do serviço de rua também por terem matado demais. Os anistiados trabalham em diferentes cidades. Derrite colocou todos de volta às ruas.

A piauí publicou, em maio, uma reportagem sobre a trajetória do secretário – o primeiro policial militar tão jovem e com patente tão baixa a assumir o cargo. A reportagem levantou arquivos com investigações sobre diligências e supostos confrontos com a participação de Derrite que resultaram em mortes, entrevistou parentes de vítimas e outras pessoas ligadas aos casos. O texto traz o depoimento de um matador que diz ter atuado em um grupo de extermínio em Osasco sob o comando de Derrite. Revela também que o secretário, em seu tempo na polícia, foi investigado por dezesseis homicídios. Isso não significa que ele tenha matado dezesseis pessoas, mas que participou de ações que resultaram nesse saldo de mortes. Derrite foi investigado em sete inquéritos, mas nunca foi denunciado. 

Um dos inquéritos diz respeito a uma operação realizada, em 2012. Na época, policiais da Rota receberam a informação de que integrantes do PCC se reuniriam no estacionamento de uma casa noturna em São Paulo. Derrite pediu para comandar a operação. Foi uma catástrofe. Seis pessoas morreram e três policiais foram presos, sob a suspeita de torturar e matar um homem que, escondido sob um caminhão, viu e ouviu tudo o que aconteceu. O episódio entrou para a crônica policial como exemplo de um completo fracasso, do ponto de vista militar e dos direitos humanos, e ajudou a encerrar a carreira de Derrite. Ele foi afastado do patrulhamento e, menos de dois meses depois, foi convidado a deixar a Rota. Seus superiores entenderam que sua letalidade era alta demais.

O secretário permaneceu quase doze anos na PM, entrou para a reserva como capitão, elegeu-se e reelegeu-se deputado federal e foi vice-líder do governo Bolsonaro na Câmara. Hoje é uma das figuras mais proeminentes do entorno de Tarcísio de Freitas. Nesta quarta-feira (4), pressionado pelos acontecimentos recentes, o governador disse que não pretende exonerá-lo. Afirmou, em vez disso, que Derrite “está fazendo um bom trabalho”.

A reportagem O homem e seu passado, que conta a história de Derrite e como ele chegou ao cargo de secretário, está disponível na íntegra para assinantes da piauí. Leia aqui.

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